Universitários pedem Justiça após assassinato de funcionário da Unifesp

Fonte: Jornal da Ciência (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=88632)

Auxiliar de limpeza foi morto no último dia 2 de agosto com oito tiros. Jovens suspeitam de participação de policiais, mas PM revela outra versão 

Estudantes universitários do campus da Unifesp, em Santos, no litoral de São Paulo, pedem uma explicação para a morte de um auxiliar de limpeza que trabalhava na universidade. Ricardo Ferreira Gama foi assassinado no dia 2 de agosto e os estudantes suspeitam que o crime tenha o envolvimento de policiais militares. Já a Polícia Militar apresenta outra versão do caso.

Na página do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de São Paulo na internet, os estudantes pedem uma providência quanto a morte do auxiliar de limpeza. Eles publicaram uma nota nesta quarta-feira (7) explicando o caso. Segundo eles, Ricardo Ferreira Gama, funcionário terceirizado da Unifesp Baixada Santista, foi agredido pela polícia na frente da Unidade Central, na Rua Silva Jardim, após responder a uma ofensa feita a ele.

Alguns estudantes defenderam Ricardo e foram ao 1º Distrito Policial, aonde os policias afirmaram que levariam o funcionário. No local, disseram aos jovens que Ricardo tinha sido levado para o 4º Distrito Policial e, no 4º DP, que ele estaria na Santa Casa. No hospital, os próprios policias que cometeram a agressão disseram que o rapaz tinha sido liberado e que estava tudo resolvido. Ainda de acordo com os universitários, um dos estudantes quis fazer um boletim de ocorrência e, a partir disso, começou a ser intimidado pelos policiais. Na nota, os estudantes dizem que encontraram o auxiliar de limpeza e ele disse ter sido procurado em sua casa pelos policiais dizendo que se os estudantes não parassem de ir à delegacia, eles “resolveriam de outro jeito”.

Segundo os estudantes, na noite desta quinta-feira (7) viaturas com homens não fardados rondaram a Unifesp. Ainda de acordo com os estudantes, algumas pessoas foram na universidade e pediram vídeos que os estudantes teriam feito durante a agressão ao funcionário, que foi morto na madrugada de sexta-feira (2) por quatro homens encapuzados.

Os estudantes também disseram na nota que “a policia não garante a segurança da maioria da população, pelo contrário, sendo um dos braços do Estado ela institucionaliza o controle social e exerce a repressão contra os trabalhadores, principalmente os negros e pobres”. O Diretório Central dos Estudantes ainda disse que “não se calará e se manterá em luta, junto da comunidade acadêmica e da classe trabalhadora contra a truculência e a violência policial contra a população pobre e trabalhadora”.

Os estudantes também divulgaram o problema nas redes sociais. Eles postaram um banner contando a história. No cartaz está escrito “Quem matou Ricardo? – Nós não nos calaremos até que seja respondida a pergunta: Quem matou Ricardo? E até que o Estado seja responsabilidade pelos seus crimes”. Os estudantes programam uma manifestação nesta sexta-feira, na porta da Unifesp.

Já a Polícia Militar conta outra versão dos fatos. Em nota enviada aoG1, a PM disse que por volta das 14h20, uma guarnição de radiopatrulha foi averiguar uma denúncia de tráfico de entorpecentes na frente da universidade. Os policiais abordaram Ricardo Ferreira Gama, que inicialmente negou-se a identificar-se para os policiais, que fizeram uma pesquisa e constatou-se que ele tinha passagens por tráfico de entorpecentes. Os policiais anunciaram que iriam conduzí-lo 4º DP. O suspeito debateu-se até a chegada do chefe no serviço de limpeza, foi detido e foi levado ao PS. Segundo a PM, ele não foi algemado e sempre esteve acompanhado do chefe. No Distrito foi constatado que Ricardo Gama possuía antecedentes criminais, mas já havia cumprido a pena. Ele foi liberado no DP e não foi registrado qualquer tipo de queixa contra os policiais.

Segundo a nota da PM, Ricardo foi morto na porta de sua residência. Equipes especializadas do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa de São Paulo estão investigado o caso. Ainda segundo a PM, foi instaurada uma investigação preliminar por parte do Comando do 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior para verificar a possibilidade de envolvimento de Policiais Militares no caso. A investigação já foi encerrada, porque os registros do GPS das viaturas da PM comprovaram que os policiais que participaram da abordagem na quarta-feira (31) estavam em outros locais no momento do homicídio.

A reitoria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) se manifestou publicamente, por meio de uma nota, o seu pesar pelo assassinato do colaborador e também o seu repúdio à violência que se abateu sobre Ricardo, que atinge direta e indiretamente toda a comunidade acadêmica. Na última sexta-feira (2), a direção do campus convocou uma reunião para informar a comunidade sobre o ocorrido e discutir encaminhamentos. Em reunião foi decidido que a universidade dará auxílio a família de Ricardo, irá discutir a questão da segurança com as autoridades políticas e representantes da segurança pública da cidade de Santos e se coloca à disposição das autoridades para colaborar com as investigações da Polícia Civil. Além disso, a direção do campus está em diálogo com a Corregedoria da Polícia Militar de Santos para discutir o caso, os problemas de segurança pública da região e a situação de violência e violação de direitos humanos, vividas pelos estudantes e moradores do município.

Mesmo com o encerramento da apuração por parte da PM, a Polícia Civil continua a investigar o homicídio. A Polícia Civil tem duas linhas de investigação. O auxiliar de limpeza foi morto por causa dessa confusão com os policiais militares ou por causa do histórico dele de envolvimento com o tráfico de drogas. Novos dados sobre o caso podem ser encaminhados pelo telefone 181, do Disque Denúncia da Secretaria de Segurança Pública.

(Portal G1)