“A Tribuna” – 10/08/2013
Testemunhas de violência policial deixam Santos por medo de represália
Estudantes viram funcionário da Unifesp ser agredido por PMs dois dias antes de ele ser assassinado
por Gisele Brito, da RBA
São Paulo – Testemunhas das agressões de três policiais militares contra o auxiliar de limpeza Ricardo Ferreira Gama, de 30 anos, no campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), passaram a viver escondidas depois do assassinato do rapaz, ocorrido dois dias depois das agressões, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
As testemunhas acreditam que há relação entre a violência policial e o homicídio. Também por segurança, eles têm evitado usar celulares, redes sociais e e-mails considerados inseguros.
Segundo alunos ouvidos pela RBA, professores da Unifesp aconselharam os estudantes que se envolveram de alguma forma com os fatos a passarem alguns dias fora da Baixada.
No dia 31 de julho, Ricardo fumava uniformizado e com crachá em frente a um prédio abandonado que fica do lado da universidade, na Vila Mathias, em Santos, quando policiais mandaram que ele saísse do local. A linguagem usada pelos PMs, segundo as testemunhas, foi grosseira e agressiva. Ele retrucou e acabou agredido no rosto. Cerca de 40 pessoas viram ele ser arrastado para dentro do prédio abandonado e filmaram a cena (vídeo abaixo).
Ricardo foi colocado no camburão de um viatura. Os policiais disseram que o levariam direto para o 1º Distrito Policial. Algumas pessoas foram até lá para registrar queixa de abuso de poder, mas acabaram encaminhadas ao 4º DP. Elas afirmam terem sido ameaçadas para não realizar o registro.
O auxiliar foi levado à Santa Casa e convencido a não fazer o registro da ocorrência.
Ricardo voltou ao trabalho horas depois da agressão e pediu às testemunhas que não registrassem o crime. Ele teria contado a algumas pessoas que já havia sido preso e que se sentia perseguido por alguns policiais. Mas, segundo a secretaria de Segurança Pública, Ricardo não tinha antecedentes criminais.
Nos dias seguintes, PMs foram vistos dentro do campus universitário fazendo perguntas sobre os vídeos da agressão. Por volta de 1h30 da sexta-feira, Ricardo foi assassinado a tiros. Segundo o B.O., homens em duas motos e um carro o teriam alvejado quando saía da Unifesp, já próximo à sua casa, no mesmo bairro.
“A gente achou que como ninguém ia fazer o B.O. o caso estava encerrado. Mas eles foram muito ousados”, afirmou uma das pessoas que testemunharam as agressões.
Vídeo: http://vimeo.com/72021637
Ricardo disse a testemunha que sempre recebia ameaças da PM
Original em: http://www.jornalggn.com.br/blog/ricardo-disse-a-testemunha-que-sempre-recebia-ameacas-da-pm
Jornal GGN – O auxiliar de serviços gerais Ricardo Ferreira Gama, assassinado no último dia 2, recebia ameaças da polícia muito antes de ser agredido próximo ao campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) da Baixada Santista, em 31 de julho. A suposta razão da intimidação: um passado como traficante de drogas. Segundo uma das testemunhas da agressão, que conversou com o Jornal GGN sob condição de anonimato, a declaração foi feita por Ricardo a um grupo de estudantes após ser liberado da Santa Casa de Santos – ele foi levado para o hospital pelos próprios PMs que o agrediram.
Vídeo feito por estudantes mostra Ricardo ferido em camburão
Marcha apoia campanha ‘Quem matou Ricardo?’
Ricardo tinha cumprido cinco anos de reclusão por tráfico de drogas. Depois de sair da prisão, ele conseguiu um trabalho – era terceirizado na universidade federal havia menos de um ano. “Ele dizia que era frequentemente abordado pela polícia. Eles o rondavam, o ameaçavam. Eram ameaças sempre desqualificando ele [sic], dizendo que ele não iria conseguir trabalho. O que dava pra entender era que as ameaças eram feitas para que ele não conseguisse se manter fora do tráfico. Foi isso que ele contou, não sei se tinham outras intenções da polícia”, enfatizou.
Na ocasião, já de volta ao campus, o funcionário fez esse comentário com os três estudantes que gravaram parte da ação da polícia (veja vídeo abaixo) – eles também tentaram fazer um boletim de ocorrência sobre o ataque, mas desistiram ao receber ameaça da polícia. Em nota emitida pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes), os universitários disseram que houve intimidação e ameaça de um policial sem identificação, dentro da própria delegacia – eram três, no total.
Segundo relatos já divulgados por outras testemunhas, entre a agressão e o atendimento médico, Ricardo teria sofrido novas ameaças dos policiais e alertado a desistir de relatar o fato à Polícia Civil. Por medo de represálias, ele pediu aos universitários que fizessem o mesmo.
Agressão
A abordagem da PM (Polícia Militar) aconteceu quando Ricardo estava em frente a uma casa abandonada, fumando cigarro com dois colegas de trabalho, por volta das13h30 daquela quarta-feira, (31). O imóvel fica na mesma calçada e a poucos metros da entrada do campus, situado à rua Silva Jardim. Uma viatura da PM com três policiais parou em frente ao local. Dali em diante, começou uma discussão, cujo motivo ainda não foi esclarecido.
A testemunha disse que, quando chegou ao local, Ricardo já estava sendo agredido. Durante o ataque, o funcionário gritava socorro e pedia ajuda. Como o imóvel estava abandonado, Ricardo foi levado para o interior da casa para apanhar mais. No tumulto, cerca de 40 pessoas ficaram ao redor da vítima e dos agentes de segurança pública, que o retiraram do local e o colocaram no camburão. “Nós gritamos, e falamos que os policiais não podiam levá-lo pra delegacia, já que ele era a vítima”.
Entre a agressão e o “passeio” forçado com a polícia, Ricardo ficou cerca de duas horas fora do local de trabalho. Segundo a testemunha, após a violência, os policiais tentaram despistar os estudantes que gravaram a cena dizendo que Ricardo seria encaminhado para o 1º DP (Distrito Policial), que fica no centro de Santos. Ao chegar lá, foram informados de que o faxineiro tinha sido levado para o 4º DP, que fica na região da universidade, no bairro Vila Mathias. Mais uma vez, a informação não procedia, e Ricardo não estava lá, e sim, na Santa Casa para ser medicado – a agressão causou uma fissura em seus lábios e, por isso, teve de receber cinco pontos.
Mesmo após ter sido liberado pela universidade, Ricardo resolveu voltar ao trabalho pressionado pela mãe, que estava em casa quando os policiais o entregaram. Na noite da quinta-feira seguinte (1), uma viatura da PM foi vista circulando pela universidade. Segundo testemunhas que estavam na faculdade na ocasião, um policial à paisana empunhava uma metralhadora para fora da janela durante a ronda.
Naquele dia, Ricardo resolveu sair mais tarde do trabalho – seu expediente se encerrava por volta das 22h. O auxiliar de serviços gerais morava muito próximo à universidade, mas resolveu esperar outros colegas para não andar sozinho pela rua. Apesar da cautela, foi assassinado na madrugada de sexta-feira (2), com diversos tiros em frente à sua casa, por quatro homens encapuzados. “Soubemos da morte dele na faculdade. A gente sumiu imediatamente da Baixada. Fizemos um esquema, e cada um foi pra um lugar diferente; soubemos, depois, que policiais andaram pela vizinhança da faculdade, incluindo a loja de xerox, para perguntar se eles conheciam alunos que fizeram vídeos da agressão”, contou a testemunha.
Procurada pelo Jornal GGN, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o o delegado responsável pela investigação, Rubens Nunes Paes, do 4º DP, já instaurou um inquérito para o crime, registrado como “homicídio simples consumado”. Segundo o órgão, um representante do DCE, amigos e parentes serão chamados para prestar depoimentos. A polícia já solicitou as imagens do circuito de segurança da faculdade para análise.
“Voltem daqui uns meses”
Ao saberem da morte de Ricardo, os estudantes decidiram sair de Santos na própria sexta-feira em que ocorreu o crime, mesmo sem ter recebido novas ameaças, após a tentativa de registrar um boletim de ocorrência. Com a repercussão do caso dentro do espaço acadêmico, a testemunha, assim como os outros dois colegas, foi encorajada por professoras a sumir por “uns meses” da cidade. O conselho foi dado para que os universitários zelassem pela própria segurança, enquanto o caso da morte do auxiliar de limpeza não é esclarecido. “Falaram pra gente se manter afastado da Baixada nos próximos meses. Nenhum advogado da universidade procurou a gente. Falaram que a procuradoria da Unifesp iria tomar as providências, mas, até agora, nada”.
Na última quarta-feira (7), a universidade emitiu uma nota sobre o seu posicionamento pela morte do funcionário e disse estar em “diálogo com a Corregedoria da Polícia Militar de Santos para discutir o caso”. Também afirmou que a reitoria está em contato com o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, e com o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, “com o objetivo de discutir o assassinato do funcionário e também os problemas de segurança da região”. Em relação aos estudantes que testemunharam o caso, nada foi mencionado.
Veja o vídeo: http://vimeo.com/video/72021637
Envie material sobre Ricardo!
Nem todos sorriram no dia dos pais…
E você, se importa? “Tod@s somos Ricardo!”
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”.
Bertold Brecht
PM reabre apuração interna sobre morte de auxilar de limpeza da Unifesp, em Santos (SP)
Rafael Motta
Do UOL, em Santos (SP)
09/08/201320h44
- Reprodução
Auxiliar de limpeza Ricardo Ferreira Gama, 30, ao ser preso pela polícia, dias antes de ser morto, em Santos (72 km de São Paulo)
O comando da PM (Polícia Militar) na Baixada Santista reabrirá investigação interna para apurar a possível participação de policiais no assassinato do auxiliar de limpeza Ricardo Ferreira Gama, 30, em Santos (72 km de São Paulo), há uma semana –dois dias após ser abordado por PMs que apuravam uma denúncia de tráfico de drogas no bairro Vila Mathias.
A medida foi anunciada depois que estudantes da unidade central da Unifesp (Universidade Federal Paulista) na cidade divulgaram um vídeo, em que Gama aparece com o rosto parcialmente ensanguentado dentro de um carro da PM, modelo Palio, de prefixo I-06301 e placas DJM-5731. Ele foi detido em 31 de julho, após discutir com policiais, e solto pouco depois.
À 1h30 do dia 2, quatro homens o mataram com oito tiros, diante de casa, a três quadras da universidade. A PM havia afastado a suspeita de que os policiais participantes da abordagem a Gama tivessem relação com o homicídio. O comando da corporação alegou que, no momento do assassinato, os agentes que interpelaram o auxiliar de limpeza “estavam em outros locais”.
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (9) à TV “Tribuna”, o capitão Samuel Robes Loureiro disse que a apuração preliminar tinha sido baseada apenas em declarações desses policiais e em uma nota do DCE (Diretório Central dos Estudantes da Unifesp) que pôs a PM sob suspeita.
Na quarta (7), nota assinada por Loureiro apontava que “o Sr. Ricardo Gama possuía antecedentes criminais por envolver-se com o tráfico de entorpecentes, mas já havia cumprido a pena. (…) Não foi registrado qualquer tipo de queixa contra os policiais, pois o delegado de plantão não vislumbrou indícios de arbitrariedades ou de abuso de autoridade na abordagem ou na condução do suspeito para o DP [4º Distrito Policial, que investiga a morte]”.
Protesto
Na tarde desta sexta (9), cerca de 150 estudantes e funcionários da Unifesp fizeram passeata na qual cobraram a solução do crime cometido contra Ricardo Ferreira Gama, que trabalhava para uma empresa que prestava serviços à universidade. Os pais da vítima, Elvira Ferreira da Gama e José Gama dos Santos, caminharam com o grupo.
Os manifestantes seguraram cartazes com os dizeres “Quem matou Ricardo?” e caminharam da unidade central da Unifesp até a avenida Conselheiro Nébias, na Vila Mathias. Eles se deitaram nas duas pistas da via e interromperam o tráfego momentaneamente.
O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, investiga o homicídio. A assessoria de imprensa da Unifesp informou que “a direção do campus está em diálogo com a Corregedoria da Polícia Militar de Santos para discutir o caso”.
Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro ocorrerá dia 22
Fonte: Jornal GGN (http://www.jornalggn.com.br/blog/marcha-nacional-contra-o-genocidio-do-povo-negro-ocorrera-dia-22)
qua, 07/08/2013 – 13:13 – Atualizado em 08/08/2013 – 11:07
Jornal GGN – Entidades como Círculo Palmarino, Uneafro, Kilombagem e MNU (Movimento Negro Unificado) estão convocando para a Marcha Nacional contra o Genocídio do Povo Negro para o próximo dia 22, às 18h. Em nota publicada na convocação feita pelo Facebook, os organizadores do protesto afirmam que também lutarão contra o “racismo institucionalizado nas áreas da saúde – como a morte materna, responsável pelo falecimento de seis vezes mais negras do que de brancas durante o parto -, na falta de educação e investimento para o cumprimento da Lei da História da África nas escolas (lei 10.639)”, porque “a ausência de uma memória da história é também uma forma de matar”.
Vídeo feito por estudantes mostra Ricardo ferido em camburão
Fonte: Jornal GGN (http://www.jornalggn.com.br/blog/video-feito-por-estudantes-mostra-ricardo-ferido-em-camburao)
sex, 09/08/2013 – 12:28 – Atualizado em 09/08/2013 – 13:52
Jornal GGN – Um vídeo feito por estudantes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), do campus da Baixada Santista, mostra o momento em que o auxiliar de serviços gerais Ricardo Ferreira Gama é colocado em um camburão da Polícia Militar (veja vídeo abaixo). Divulgado nesta sexta-feira (9), o material filmado no dia 31 de julho mostra o funcionário com o rosto ensanguentado após ser agredido por oficiais da PM.
Quem matou Ricardo?
O DCE da Unifesp iniciou a campanha “Quem Matou Ricardo?” para pressionar o Estado, neste caso representado pela Polícia Civil, a apurar as circunstâncias que levaram à morte do funcionário da faculdade. Nesta sexta, um ato está marcado no campus da Baixada, que fica na rua Silva Jardim, 136, na Vila Mathias, em Santos. A concentração é às 16h e a saída está prevista para as 17h.
Em São Paulo, os organizadores da Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro,marcada para o dia 22, também resolveram apoiar a campanha.