Um ano se passou e a pergunta permanece: Quem MATOU Ricardo?

“A justiça é cega, por que a verdade anda nua!” (Criolo)

Há exatamente um ano, Ricardo Ferreira Gama teve sua vida arrancada. A humilhação e a dor de ser espancado em frente ao seu local de trabalho por policiais e, mais tarde, a violência final ao ser baleado em uma esquina escura da cidade de Santos.

O caso de Ricardo não é diferente de todos os mortos em maio de 2006 (na mesma Baixada Santista), como também de Claudia que foi arrastada por um camburão da PM e seu corpo dilacerado, é muito semelhante com o caso de Amarildo que sumiu, parecido com o caso de Gleise que foi incendiada após denunciar a ameaça policial, não é diferente de todos os outros e outras mortos/as para que esse Estado militarizado possa viver.

Ricardo era como nós, como você. Ricardo tinha trinta anos, sonhos, amores, medos e desejos.

Quem matou Ricardo? (Quem matou está crescendo em tom e dor, pois o Estado, e todos os seus aparelhos repressivos estão vivos, nos violentando, disseminando medo e terror, dividindo-nos. Em Sófocles encontramos a passagem – passado abandonado jamais se torna passado. Que o passado não seja abafado. Que nossos mortos sejam lembrados, com a força para construir um presente. Que as mortes de nossos mortos não sejam em vão. A luta de classes também é isso: amar e lutar por quem a gente não conhece.

Comissão da Verdade Marcos Lindenberg quer a verdade também sobre os crimes atuais: Quem matou Ricardo?

A Comissão da Verdade Marcos Lindenberg da Universidade Federal de São Paulo
vem expressar seu repúdio ao assassinato, em 02 de agosto de 2013, do
funcionário Ricardo Ferreira Gama, que prestava serviços ao Campus Baixada
Santista. A bárbara execução foi precedida por uma abordagem policial que,
diante dos olhares de membros da comunidade acadêmica, não hesitou em
espancar o trabalhador a poucos metros da entrada da Unidade Central do
Campus, à Rua Silva Jardim nº136, na cidade de Santos, no dia 31 de julho de
2013, às 13h30.
Esta Comissão solicita que a Universidade Federal de São Paulo, zelosa de
sua autonomia e alicerçada por seus princípios de transformação social,
acompanhe o caso, sobretudo fornecendo apoio psicológico e jurídico aos
estudantes e trabalhadores que testemunharam parte destes fatos; e
suscitando o debate acerca da extrema violência e violação dos direitos
humanos da sociedade.
Na busca pela verdade, justiça e preservação da memória dos que ontem
lutaram contra a ditadura, a Comissão da Verdade Marcos Lindenberg reputa os
bárbaros atentados aos direitos mais elementares de qualquer ser humano hoje
e exige que medidas urgentes sejam adotadas para a apuração e punição dos
responsáveis pela agressão e pelo assassinato de Ricardo Ferreira Gama. Os
episódios de violência que se abateram sobre Ricardo são os mesmos
responsáveis pelas cotidianas mortes da juventude marginalizada de nosso
país. É fundamental que sejam tomadas medidas estruturais para a resolução
deste problema e repensar a política de segurança pública vigente é um dos
primeiros passos rumo à construção de um efetivo Estado democrático.

Comissão da Verdade Marcos Lindenberg