Adunifesp repudia violência na Baixada Santista

Original: http://www.adunifesp.org.br/artigo/adunifesp-repudia-violencia-na-baixada-santista

É com perplexidade, tristeza e revolta que recebemos a notícia do assassinato do funcionário de limpeza do campus Baixada Santista da Unifesp, Ricardo Ferreira Gama, na madrugada do último dia 02 de agosto, um dos mais lamentáveis episódios da história de nossa Instituição. A Adunifesp-SSind. solidariza-se com a família e os amigos de Ricardo, e, assim como a comunidade universitária, também espera que os responsáveis por essa violência, que se repete lamentavelmente na Baixada Santista, sejam punidos.

Ricardo foi executado com oito tiros por homens encapuzados perto de sua casa, nas proximidades prédio da Unifesp na rua Silva Jardim. Dois dias antes de sua morte, Ricardo estava fumando durante a sua hora de almoço em frente ao mesmo prédio, quando foi abordado por três policiais militares. O episódio foi presenciado por muitas pessoas da universidade, que testemunharam inclusive, agressões físicas e verbais sofridas por ele. Algumas pessoas tentaram intervir em favor de Ricardo, gravando parte do ocorrido, mas o funcionário acabou sendo levado no carro de polícia, cenas estas gravadas e divulgadas na internet. Algum tempo depois, ele voltou à Unifesp e afirmou que fora abordado pelos mesmos policiais, que o teriam coagido a não denunciar o caso. Na madrugada do dia seguinte, Ricardo foi executado.

É fundamental neste momento a manifestação de toda a Unifesp e a exigência de que a execução de Ricardo seja investigada e que os responsáveis sejam punidos. Juntamo-nos aos diversos posicionamentos da comunidade do campus da Baixada Santista, inclusive a manifestação pública da última sexta-feira (09), do DCE e do movimento estudantil da Unifesp, da reitoria de nossa Instituição e de diversas entidades, inclusive, do ANDES-SN. A pressão sobre as autoridades é muito importante e um caso desta gravidade não pode ficar impune. Esperamos que a morte de Ricardo não se transforme em mais uma das mortes violentas esquecidas e sem apuração.

Diretoria da Adunifesp-SSind. – Gestão 2013/2015

Soraya Smaili: Universidades, não fortalezas

Na madrugada de 2 de agosto, Ricardo Ferreira da Gama, funcionário terceirizado do campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi assassinado a tiros, em frente à sua casa, por quatro homens encapuzados.

A reitoria da Unifesp lamenta e repudia com veemência mais esse ato de barbárie. Ao mesmo tempo, é obrigada a reconhecer que o assassinato de Ricardo Gama, singular por suas características extremadas, lamentavelmente, não é um caso isolado. A cada dia, situações de violência são vividas por estudantes, funcionários e professores nos seis campi da Unifesp.

Por essa razão, o homicídio recoloca com força um debate necessário sobre a questão da segurança na universidade pública, em geral, e na Unifesp, em particular.

A Unifesp foi a universidade que mais cresceu nos últimos seis anos. O número de estudantes de graduação foi multiplicado por oito, distribuído em seis campi situados em São Paulo (onde estão suas escolas mais antigas), Diadema, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos e o da Baixada Santista.

Em boa parte, os campi estão localizados em áreas de vulnerabilidade social, e há uma forte razão para isso: a presença da universidade visa também promover o desenvolvimento social do entorno, segundo uma perspectiva de integração entre ambos.

Não obstante, a Unifesp sofreu uma diminuição no número de funcionários. A carreira de vigilante foi extinta, e as universidades federais foram obrigadas a terceirizar esse e muitos outros serviços, sem contar com os recursos adequados.

Promover a integração da universidade ao meio em que ela se encontra não significa simplesmente abrir as suas portas para a comunidade.

Trata-se, sobretudo, de construir uma reflexão aprofundada sobre a importância que a universidade tem para a sociedade, de modo a conquistar o reconhecimento de sua atividade como relevante para a vida.

Nesse processo de construção de abertura e diálogo, a violência cumpre um papel obviamente destruidor e desagregador.

Alguns professores, estudantes e funcionários, alarmados pela violência, querem mais vigilância, catracas, sistemas de câmera em todos os lugares.

Se é perfeitamente compreensível que as pessoas queiram se proteger, por outro lado somos obrigados a observar que os crimes contra o patrimônio –todos, obviamente, condenáveis– não podem ser equiparados a agressões físicas e sexuais e até homicídios, como o de Gama.

Não se trata de uma observação secundária. Devemos, obviamente, agir com rigor e rapidez contra qualquer ato ilegal. Mas não podemos correr o risco de criar novos problemas –já por si só gravíssimos– mediante a transformação dos campi universitários em fortalezas estreitamente vigiadas.

A multiplicação de câmeras, catracas e sistemas de alarme é contraditória com a concepção de uma vida universitária que preserva a liberdade de cátedra, de manifestação e expressão. Nem representa um fato consumado a proposição segundo a qual a presença de uma polícia fortemente armada e pouco treinada para o ambiente universitário é sinal de segurança.

Veridiana Scarpelli

Como, então, devemos tratar a questão? A resposta, evidentemente, não será dada unicamente no âmbito da Unifesp nem sequer pelo conjunto das universidades federais.

Trata-se de um problema social. O momento deve nos permitir o debate das ideias, a busca de soluções. O clamor por mais segurança não resolverá, por si só, o problema social nem diminuirá a vulnerabilidade em que nos encontramos.

A reitoria da Unifesp propõe o debate para a sua própria comunidade, mas também para a sociedade e autoridades brasileiras.

Precisamos encontrar soluções e caminhos para que não nos enveredemos em discussões comocionadas ou reduzidas, que poderão nos levar a medidas de pouca eficácia. Importante é não colocar em risco o papel de promover a reflexão e o debate de ideias próprio a uma universidade digna desse nome.

SORAYA SMAILI, 50, professora de farmacologia, é reitora da Universidade Federal de São Paulo